Matei o meu Primeiro Vampiro...Acho!
Ontem à noite matei o meu primeiro vampiro... Acho!
Por razões óbvias não vou revelar o meu nome. No entanto, o peso que sinto na consciência e o cheiro do sangue fresco que se recusa teimosamente a sair das minhas unhas, levou-me a esta confissão mascarada.
Tenho medo! É esta a primeira ideia que me ocorre ao cérebro ainda dormente dos tormentos da noite passada. Tenho medo de várias coisas...
Tenho medo de ter cometido um erro. Tenho medo de ter chacinado uma alma inocente. E por isso tenho medo de ser descoberto, perseguido e condenado. Mas acima de tudo, tenho medo de ter ficado viciado. Tenho medo de nunca mais vir a conseguir parar.
Já são quase incontáveis os dias que passaram desde que pela primeira vez percebi que o seu comportamento era suspeito. Ele não se movia como uma pessoa normal. Não falava como uma pessoa normal. Não comia ou bebia o mesmo que uma pessoa normal. E ele não dormia numa cama normal.
Ontem à noite resolvi segui-lo até ao seu covil. Não, não era uma caverna ou um cemitério, nem qualquer outro depósito de carcaças humanas. A minha perseguição durou apenas o tempo suficiente para chegar até ao outro lado da rua. Falo do meu vizinho da frente. Aquele ser que ontem à noite teve direito à sua derradeira lufada de ar.
À socapa consegui aproximar-me da figura balofa. Sob a ameaça de um cutelo forcei-o a entrar em casa. Entrei com ele. Fechei a porta por detrás de nós e dei início ao interrogatório do juízo final. Testemunhas não havia. Advogado de defesa também não. Nem juiz ou jurados marcaram presença. Apenas eu, ele, o meu cutelo, e a estaca de madeira que ocultava por debaixo do meu casaco. Uma peça de arte mórbida e mortífera que me custou quase dois dias de trabalho até à sua conclusão. Sabia que era assim que tinha de ser feito. Pelo menos assim pensava...
É incrível o quanto estas almas condenadas têm de sabedoria e malvadez. Quando se vêem ameaçadas são capazes de inventar mil e uma artimanhas para escapar ao destino cruel que lhe reservam aqueles que, como eu desde ontem, os perseguem na calada na noite. Provavelmente isto fará rir muita gente. A mim sim que fez. Depois de confrontado com as minhas acusações irrefutáveis, eis o que o desgraçado me disse....
Disse-me que mancava porque tinha sofrido um grave acidente de viação que lhe destroçara o joelho esquerdo. Disse-me que o problema da gaguez era congénito, mas ao mesmo tempo, algo que crescera com ele no dia do tal acidente. Disse-me que dormia de dia e saía de noite porque trabalhava numa padaria. Disse-me que não gostava de peixe e que quanto a bebidas... só se saciava com sumo de tomate ou vinho tinto. E por último, imaginem só.... Disse-me que dormia na cave porque sofria de fotofobia, e era aí o único sítio da casa onde a incomodativa luz do sol não conseguia chegar.
Sei que se estão a rir neste momento. De facto é hilariante, e foi por isso que eu também me ri um momento antes de acabar com ele. Uma vez mais digo... É absolutamente inacreditável aquilo que estas criaturas logram magicar para escapar à morte. Os tais seres intocáveis que de imortais só têm a capacidade de persuasão e a habilidade para o embuste.
Senti que gozava com a minha cara e por isso, sem mais demora, tombei-o por terra. Puxei do aguçado pedaço de madeira e espetei-lho sobre o peito. Cravei e empurrei a maldita tábua até senti-la perfurar com gosto o seu coração assustado. Sem pestanejar, virei costas e regressei ao leito com a sensação de dever cumprido. Dormi profundamente até hoje de manhã.
E foi quando tomava as minhas habituais torradas com manteiga ao pequeno almoço, que uma estranha sensação de inquietação e de medo se abateu sobre mim... Uma sensação agridoce. Um misto de pânico e de excitação. E não!... Não foi do sabor a pão queimado.
A minha mente achou por bem começar a questionar-se...
Será que fiz o correcto? Será que acabei mesmo de matar um vampiro?... Ou será que a cultura de Hollywood me deturpou e moldou de tal forma o discernimento, que me levou ao extremo de sacrificar uma vida inocente?... Tanta dúvida dentro de mim só me acarreta mais incerteza... E é por isso que eu digo:
Ontem à noite matei o meu primeiro vampiro... Acho!
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Autor: Paulo Cristo
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