De todas as pessoas que retiramos a Vida, conseguimos absorver suas memórias enquanto nos alimentamos. Tudo passa em flashes muito rápidos e com um pouco de concentração, antes mesmo de a vítima dar o último suspiro, apagamos tudo de nossas mentes. Muitos de nós, ainda novatos, podem sofrer com a absorção de sentimentos, pensamentos, anseios, medos de suas vítimas mas, com um pouco de experiência, podem se acostumar e como disse, apagar da mente.
Simplesmente para mim, naquele dia, era somente mais um mortal servindo de alimento, embora eu me assuma muito ligado a eles, minha fome é maior que meu… digamos, carinho. Mas aquele dia, enquanto alimentava-me, as memórias comumente vindas e rapidamente apagadas, me chamaram atenção. Quando dei fim a vida do mortal, suas memórias permaneceram latentes em minha mente porque eu assim quis. Recolhi-me aos meus aposentos quando o dia raiava e as memórias foram avivando-se e eu perdi longas horas analisando cada uma delas…
Memórias distantes de uma infância solitária, por ser filho único, mas não que não tivesse amigos, mas por sempre precisar de algo para se completar. Na adolescência, o primeiro beijo, a primeira namorada, o conhecimento dos sentimentos como amor, ódio, respeito… O conhecimento do prazer carnal, desejos secretos…
Não me lembro muito de minha adolescência, mas sei que é uma fase de transição muito importante para os humanos, quase parecido com o segundo nascimento, quando nascemos para a noite. Mas outra parte da vida deste ser me chamou mais ainda a atenção, quando ele tornou-se adulto. Um homem sentimental, romântico, que sofria por amor não correspondido, sofria por amizades que considerou sinceras, palavras ditas que ele aceitou e depois provadas inverdades, mas mesmo assim ele nunca desistiu de achar certa pessoa que entendesse seu jeito de ser, amar, corresponder, ser atencioso, carinhoso…
Um namoro longo, mais de cinco anos e pensando que a pessoa fosse realmente quem tornaria sua esposa, mas não foi assim.
Um relacionamento em que as palavras foram proferidas… “Eu te amo”, “quero me casar com você” e mais uma vez, como tantas vezes anteriores, palavras que foram aceitas para depois mostrarem-se mentirosas, afiadas como lâminas, mas que não o deixaram triste. No fundo o tornou mais insensível e ao mesmo tempo inseguro, desconfiado, amedrontado dos sentimentos dos outros por ele.
Outras pessoas passaram pela vida do humano, mas não houve sentimento por parte dele e quiçá das pessoas que se envolveram com ele. Por muito tempo ele permaneceu guardando algo dentro de si, fúria, tristeza, desconfiança, depressão… Ele passou a não demonstrar mais sentimentos, não se mostrar “a fim” desta ou daquela garota, por medo, insegurança, medo do que poderiam sentir por ele ou o que ele pudesse dizer e que as pessoas pensassem…
A religião não ajudava, embora ele acreditasse em alguma força superior, tentasse acreditar que aquilo pudesse ajudá-lo a conhecer alguém, ajudá-lo a superar os medos…
Marcus sempre me diz que eu nutro sentimentos por pessoas ainda que passageiros, mas esse rapaz realmente tinha uma vida que merecia talvez ser prolongada com a pós-vida e, quem sabe, descobrir a felicidade… de alguma maneira.
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